O Simpa tem denunciado a precarização das condições de trabalho e dos serviços de saúde oferecidos à população de Porto Alegre. Nesta terça-feira (12/11), GZH publicou matérias que mostram o drama vivido por quem necessita das emergências psiquiátricas na capital gaúcha.
Confira abaixo alguns trechos das reportagens de Kathlyn Moreira.
Segue abaixo, o depoimento do colega membro do Cores Saúde, enfermeiro do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul, Armando Teixeira Júnior.
Com aumento da procura, emergências psiquiátricas chegam a operar com o triplo da capacidade em Porto Alegre
https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/noticia/2024/11/com-aumento-da-procura-emergencias-psiquiatricas-chegam-a-operar-com-o-triplo-da-capacidade-em-porto-alegre-cm391pb4501c1012cjrg84eys.html
Unidades que oferecem o atendimento na Zona Norte e na Zona Sul enfrentam alta demanda por esse serviço, com pacientes que esperam em poltronas, cadeiras e macas.
Destinadas a receber casos graves de saúde mental, as emergências psiquiátricas do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS) e IAPI, em Porto Alegre, enfrentam o aumento expressivo de pacientes e a falta de estrutura adequada para dar conta da superlotação. O problema se agravou no pós-enchente.
Conforme o painel de monitoramento da prefeitura e os relatos de funcionários, não é raro os locais operarem com lotações de 300%, precisando acomodar os pacientes em poltronas ou em macas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Na terça-feira (12), o sistema municipal aponta que o Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul atende 30 pacientes adultos com capacidade para 12 leitos, e o IAPI 37 pessoas em um espaço preparado para 12 vagas.
No dia 20 de outubro, o PACS chegou a receber 44 pacientes, o triplo da capacidade, se ainda forem somadas as duas vagas disponíveis para menores de idade (14 leitos no total).
— Nós encontramos diariamente essa superlotação. Ela se tornou já uma situação crônica. Acaba acarretando o aumento de riscos, não só para o paciente que chega muitas vezes em agitação psicomotora, como também para os próprios servidores, que ficam expostos a risco de agressão, por exemplo. O setor que deveria conter 14 pacientes, via de regra, acaba acomodando 30, 40. Até 47 pacientes já permaneceram em sala de observação, sem que haja uma estrutura física adequada — constata o enfermeiro do plantão de emergência em saúde mental do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul, Armando Teixeira Júnior.
Gerenciada pela iniciativa privada desde 2020 e com cerca de mil atendimentos por mês, a emergência do IAPI tem um cenário parecido. Segundo o coordenador médico do Serviço de Saúde Mental da Associação Hospitalar Vila Nova, Tomás da Cunha Recuero, a média tem variado de 30 a 40 pacientes por dia, com situações em que o total chegou a 48, três vezes acima da capacidade.
Demanda crescente
O psiquiatra analisa que esse crescimento tem relação com eventos traumáticos como guerras, pandemia e enchente, que podem afetar a saúde mental da população, se não houver um acompanhamento adequado.
— O acesso ao atendimento básico às vezes pode demorar e aí é uma coisa que sai um pouquinho do nosso controle de saber se esses pacientes estão tendo, ou não, acesso à rede para atendimento — avalia Recuero.
O enfermeiro Armando Teixeira Júnior faz uma associação semelhante com relação à unidade da Zona Sul, com crescimento exponencial da demanda por estes atendimentos na Capital.
— O nosso setor já não está conseguindo mais dar conta — lamenta o funcionário, que integra uma equipe formada por dois médicos psiquiatras, um enfermeiro e quatro técnicos.
Recuero conta que foram alocadas mais 14 macas para conforto dos usuários no IAPI, além de poltronas e cadeiras. Essa maior quantidade de internados no local, que recebe cerca de 48% da demanda na Capital, porém, compromete a atuação da equipe.
— A gente tem equipe estruturada para 25 a 30 pacientes, mais que isso a gente não consegue dar conta da forma ideal — salienta.
Longa espera por leitos
Na emergência da Zona Norte, o tempo médio de transferência para a rede hospitalar ou serviço especializado é de dois a três dias. No entanto, Recuero admite que há casos que podem chegar a 15 dias.
De acordo com o médico, os leitos para crianças e adolescentes são os que demoram mais, por serem difíceis de localizar. Essa espera preocupa o enfermeiro Armando:
— (Existem) riscos a que os pacientes acabam sendo submetidos, porque muitas vezes eles precisam ser contidos quimicamente através de medicação e também através da contenção mecânica protetiva, então, no caso, não deixando o leito, o paciente muitas vezes permanece em cadeiras, em poltronas, em macas pelos corredores — afirma.
A longa espera também atinge adultos. O enfermeiro do Cruzeiro do Sul cita o caso de um idoso no PACS aguardando encaminhamento há mais de um ano.
Fila de espera para atendimento em saúde mental em Porto Alegre pode levar mais de 790 dias
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Uma avó* e auxiliar de serviços gerais mostra à reportagem documento que recebeu em 6 de setembro de 2022, na Unidade Básica de Saúde Aparício Borges, em Porto Alegre. Ali está registrada a solicitação de consulta em saúde mental para o neto dela, na época com 12 anos. Mais de dois anos depois, a moradora da Capital segue aguardando o atendimento.
Acessando o sistema do município, o tempo médio de espera estimado para a especialidade aponta 248 dias, menos da metade dos 790 dias que o neto, hoje com 14 anos, está aguardando. O problema se agravou no pós-enchente. Em abril eram 71 dias de espera em saúde mental. Já em junho, 196 dias.
— Ele precisa de um atendimento psicológico e psiquiátrico. Eu vou de 15 em 15 dias no postinho para me informar. Eles olham no computador e dizem que não foi chamado ainda. Não explicam nada, só falam que não foi chamado. A gente está sempre num clima tenso, esperando alguma coisa, alguma reação agressiva, fica bem difícil — relata a avó, já desanimada.
O encaminhamento a um especialista é feito pela unidade básica de saúde. A fila de espera segue uma classificação de prioridades estabelecida por cores. O caso do neto da auxiliar de serviços gerais foi indicado como amarelo, o terceiro nível na ordem, que tem vermelho – o mais grave -, laranja, amarelo, verde e azul. Conforme a avó, o menino tem suspeita de bipolaridade. Sem o tratamento adequado, ele não consegue permanecer na escola.
— Ele andou tendo uns surtos de novo, andou tendo problemas, mas se recusa a tomar medicação. E eu preciso de uma consulta. Como demora muito, eu estou vendo o que posso fazer — lamenta.
Em resposta sobre este caso, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que o menino está em uma fila que leva em consideração a territorialidade, aguardando atendimento no Caps Infantil do Hospital de Clínicas. De acordo com a prefeitura, a fila interna da instituição tem 532 pacientes e, por essa razão, teria extrapolado a média de tempo para atendimento.
A pasta diz que há 275 pessoas “na frente” e argumenta que o último registro de atendimento na unidade de saúde foi em novembro de 2023. A prefeitura argumenta que, se houvesse continuidade no posto, a prioridade poderia evoluir, e ele poderia ser acompanhado até ser chamado.
Fila com 5,2 mil pessoas
No início deste ano, aproximadamente 10 mil pessoas aguardavam tratamento em saúde mental, com uma espera de um a dois anos para acompanhamento de psicólogo, psiquiatra, ou encaminhamento pra Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), segundo o secretário municipal de saúde, Fernando Ritter.
Atualmente, a prefeitura estima que 5,2 mil pessoas estejam na fila e que a média de espera para atendimento seja de 200 dias para adultos e 190 dias para crianças.
Em outro caso, o filho de uma dona de casa* aguarda em duas filas por atendimento. Na primeira, o menino de nove anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista, está há 76 dias esperando para consultar com um psiquiatra. Ele entrou na lista em agosto deste ano na categoria azul, a de menor prioridade.
Em outra fila, aguarda há mais de 700 dias, desde 25 de novembro de 2022, por atendimento de reabilitação intelectual. Pelo sistema do Sistema Único de Saúde (SUS), a criança está na prioridade laranja (uma abaixo da mais urgente). Pela ferramenta, a dona de casa é informada que o tempo médio de espera para esta especialidade e prioridade é de 670 dias, ou seja, mais de um ano e meio.
— Ele tem muitas crises e é muito ansioso, e a ansiedade leva ele a ter crises. Eu tenho o diagnóstico dele faz dois anos e até agora não chamaram para o tratamento — comenta a mãe.
Em pedidos de reabilitação intelectual, como neste caso, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirma a média de 600 dias de espera. São mais de 3,3 mil pessoas na lista, sendo 1.250 na faixa etária entre zero e cinco anos, e 1.432 entre seis e 12 anos.
Os atendimentos desse tipo são realizados no Centro de Reabilitação de Porto Alegre (Cerepal) e no Hospital Santa Ana. Eles são dedicados a pessoas com deficiência intelectual ou em investigação de transtornos e síndromes relacionadas, como déficit de atenção e hiperatividade, Síndrome de Down, retardo mental e transtornos de comunicação.
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