Pesquisa mostra aprofundamento da exclusão social pela Educação na pandemia

Foi apresentada na manhã desta sexta-feira (21/8) a quarta e última parte dos resultados da pesquisa produzida pelo Comitê Popular Estadual de Acompanhamento da Crise Educacional no RS e pela Associação Mães & Pais Pela Democracia. Ao longo das últimas três semanas, o Comitê Popular Estadual de Acompanhamento da Crise Educacional no RS apresentou dados sobre as dificuldades das famílias e também das redes de ensino.

 

A pesquisa envolveu mais de 2 mil pessoas da cidade de Porto Alegre, entre os dias 23 e 28 de julho, através de um questionário online, ajudando a revelar as desigualdades no tratamento ao tema da educação durante a pandemia.

 

De acordo com Daniel Momoli, coordenador do Comitê Popular, as respostas permitem apontar a situação enfrentada durante a pandemia, os riscos à saúde e aos vínculos com a escola e quais as condições necessárias para se pensar um retorno às atividades presenciais no ensino. “Ao longo de quatro semanas de estudo, os resultados nos permitem denunciar que neste momento estamos em um cenário de desigualdade entre as redes e de exclusão e que precisamos discutir no âmbito de toda a sociedade junto com os órgãos públicos garantidores do direto à educação, medidas que sejam emergenciais e que possam mitigar todos os efeitos provocados por essa pandemia”.

 

A socióloga Aline Kerber, da Associação de Mães e Pais pela Democracia e uma das responsáveis técnicas da pesquisa, salientou também que os dados demonstram uma fragilidade financeira, tanto das famílias quando dos professores, com 27% de desempregados e 21% dos educadores necessitando de auxílio emergencial. Uma situação grave, visto que a que a pesquisa foi realizada entre um extrato de pessoas que têm acesso à internet e computador, não dando conta dos mais vulneráveis.

 

Outro dado importante, que se refere ao debate da volta às aulas, é que 54% das famílias pesquisadas tem alguém que mora na casa exposta diretamente ao risco da CoVID-19. “Esse dado demonstra que é muito complexo pensar em qualquer medida de volta às aulas em um momento tão difícil de curva ascendente e grande mortalidade, sem testes em massa e política de rastreamento”, argumenta Aline.

 

A pesquisadora também destacou que os professores estão invisibilizados e todos os problemas relacionados ao contingenciamento da educação durante a pandemia estão caindo na conta da escola pública e dos professores para que sejam resolvidos sem uma adequada orientação dos gestores e “tomadores de decisão”.

 

“Falta uma política que articule a proteção social. É preciso enfrentar o apagão educacional, que será uma realidade também no pós-pandemia, com políticas públicas, ouvindo professores e professoras que foram afastados desse processo pelos governantes. É preciso um grande diagnóstico. Somente quando houver estrutura e RH poderemos pensar na volta de todos de forma conjunta, ressaltando sempre: vidas em primeiro lugar”.

 

Aline destaca que “o problema é maior na rede municipal pela ausência de merenda, e de acesso a computador com internet banda larga”.

 

Para o diretor do Simpa, Luis Fernando de Fraga Silva, existe um desafio pela frente. “O planejamento estatal terá, indubitavelmente, que levar em conta a necessidade de investimento nas novas tecnologias e o acesso universal a elas junto com a capacitação de nossos professores e modernização das escolas”, avalia.

 

Cindi Sandri, também diretora do Simpa, denunciou que a atuação da gestão municipal é de absoluto desmonte estrutural e da oferta do ensino. “Essa realidade não é só na educação, infelizmente. Isso se reflete em toda a rede de proteção. Há um descompromisso do Estado com as políticas públicas. Desmonta, precariza e entrega para a iniciativa privada. Isso se reflete quando o governo federal diz que a volta às aulas é um problema dos governadores, que jogam para os prefeitos que por sua vez deixam para a direção das escolas”.

 

Outro aspecto destacado pela dirigente do Simpa é que as comunidades da RME de Porto Alegre são 100% caracterizadas pela vulnerabilidade social. “Não há nenhuma possibilidade do professor se sentir tranquilo fazendo mais do que ele já faz. O professor está na escola distribuindo os itens da merenda, entregando e recebendo atividades para os alunos. Se não tiver teste e vacina, a questão para nós não é a garantia do ano letivo, é a manutenção da vida”, enfatizou.

 

Mais informações sobre a pesquisa podem ser obtidas com Aline Kerber, Presidenta da Associação Mães & Pais Pela Democracia através do e-mail maesepaispelademocracia@gmail.com e com Daniel Momoli do Comitê Popular Estadual de Acompanhamento da Crise Educacional no RS através do e-mail: comitepopulardeeducacao@gmail.com. O Simpa integra o Comitê Popular Estadual de Acompanhamento da Crise Educacional no RS, confira a lista completa de entidades no link: https://bit.ly/comiteeducacao

 

Saiba mais sobre a pesquisa: 

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Tags: Coronavírus, CoVID-19, Educação

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