Seminário põe em xeque Estado opressor e propõe educação com resistência

 

O enfrentamento à onda conservadora — que retira direitos e oprime — tendo a escola como instrumento de aprendizagem e resistência foi o centro do primeiro dia do seminário “Educação e democracia: os violentados da sociedade estão na escola”. Promovido pelo Simpa com apoio da Atempa e da Faced, o evento realizado na noite desta sexta-feira, 14/12, teve como palestrante o professor emérito da UFMG, Miguel Arroyo.

 

A abertura da mesa ficou a cargo da professora Russel Teresinha Dutra da Rocha, da Frente Gaúcha pela Educação Democrática. Ela fez um resumo das diversas iniciativas que convergem para o enganoso conceito de “escola sem partido”, nome que, na verdade, encobre a censura e a perseguição que estão em sua essência.

 

Ela também destacou que ainda que tais projetos de lei não sigam adiante por serem essencialmente inconstitucionais — conforme indicou recente decisão do STF — “já estamos vendo, no tecido social, a disseminação da intolerância e da violência contra professores e grupos sociais”.

 

Ao falar destes grupos sociais, destacou o contexto no qual está inserida a grande maioria dos alunos vítimas dessa intolerância e violência: “a chance de um jovem negro ser assassinado é quatro vezes maior do que a de um branco. O Brasil é o quinto país em feminicídio e um dos que mais matam LGBTs”. E colocou que o discurso embutido nos projetos de escola sem partido “legitima essa barbárie”.

 

Os violentados da escola

 

Ao iniciar sua fala, o professor Miguel Arroyo elogiou a iniciativa, destacando que a formação política mais ampla deve fazer parte do dia a dia dos sindicatos para além da defesa dos direitos dos trabalhadores.

 

Quanto ao tema em debate, colocou que vivemos “tempos de democracia aprisionada, sem povo, com Estado de intervenção, repressor, e com uma Justiça justiceira. Um tempo de Estado de privilégios”.

 

Nesse sentido, explicou que a escola deve ser um espaço de construção de pensamento crítico e resistência que deve acolher os alunos, os principais violentados da sociedade aos quais o tema do seminário se refere e que mais sofrem com o atual Estado de privilégios e de retirada de direitos.

 

Arroyo colocou que hoje as escolas não conseguem oferecer essa perspectiva e que a base comum curricular é uma forma de controle radical que fere a autonomia dos professores. “O professor acaba se tornando um mero requentador de marmita pronta”, comparou.

 

Arroyo também discutiu como os atuais ataques ao povo trabalhador — como a Emenda Constitucional do teto de gastos e as reformas trabalhista e da Previdência — afetam a escola tanto por atingir seus trabalhadores quanto as famílias dos alunos e eles próprios. A terceirização e a precarização do trabalho de maneira geral e da educação em especial são aspectos que contribuem ainda mais para piorar o nível educacional e o contexto que envolve a comunidade escolar, contribuindo ainda mais para rebaixar as condições socioeconômicas e estimular as tensões sociais.

 

“Se não compreendermos como vivem as famílias de nossos estudantes, em quais condições eles chegam à escola não teremos entendido nada”, disse, colocando que essa compreensão é fundamental para a superação de preconceitos e a transformação da escola e da sociedade. “O papel da escola é garantir a vida e seu papel ganha ainda mais importância em contextos de opressão”, disse, destacando que o Estado opressor deve ter na escola um foco de resistência e de formação para além da educação formal. E completou dizendo que os tempos atuais não são de condenar a infância e a adolescência, mas sim de acolher, dar suporte e contribuir para a formação crítica.

 

Arroyo finalizou fazendo um apelo: “Atender os injustiçados exige mais trabalho, exige menos alunos na sala. Estas infâncias e adolescências estão na UTI social. É hora de somar, é por eles que devemos lutar. É hora de somar os movimentos. A educação não é só tarefa nossa, nós também somos segregados. Somando, podemos resistir porque vamos salvar muitas existências”.

 

A abertura do seminário contou com apresentações de música e poesia de alunos da Emef Alberto Pasqualini, com a participação de Walter Ferreira (Pingo Borel), Bruna Ferreira, Robson Melo, Vinícius Vieira e Liagner Chagas, coordenados pelas professoras Ana Carolina dos Santos, Helena Meireles e Janaína Barbosa.

 

O seminário teve a presença dos vereadores Sofia Cavedon e Marcelo Sgabossa, dos diretores gerais do Simpa, Luciane Pereira e Jonas Tarcísio Reis, e dos diretores Ivam Martins, Roselia Sibemberg, Hamilton Farias e Adelto Rohr. A Atempa foi representada pelas diretoras Cindi Sandri, Sinthia Mayer e Fabiane Pavani.

 

Tags: Educação, Escola Pública, SemAssédioSemMordaça, violência

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