Repúdio ao assédio moral contra a enfermeira Joelza

O Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) repudia a ação do secretário de Saúde, Erno Heinz, que, na noite do dia 25 de outubro, promoveu constrangimento à enfermeira, Joelza Chiste Linhares, do Hospital Materno Infantil Presidente Getúlio Vargas (HMIPV), em greve junto com a categoria municipária. O crime de assédio moral será denunciado pelo Sindicato, que irá propor ação de indenização pelos danos morais causados à servidora. A alocação de Recursos Humanos é de responsabilidade exclusiva do gestor. A liminar da Justiça garante o direito de greve e estipula o percentual de manutenção dos serviços essenciais, medida respeitada pelos servidores. O assédio moral será coibido pelas medidas judiciais e legais cabíveis.

Neste dia, a servidora grevista foi interpelada em sua residência, por volta das 22h30min, por um advogado da SMS, que veio buscá-la para cumprir jornada no Hospital. Logo após, o governo emitiu nota lamentando que o Centro Obstétrico estivesse fechado porque a enfermeira se recusou a trabalhar. Leia abaixo o relato de Joelza.

Ao todo, são 84 enfermeiras lotadas no HMIPV, das quais, 35 só na área adulta. A decisão de fechar o Centro Obstétrico, responsabilizando uma servidora grevista, foi intencional do secretário. Neste setor apenas duas enfermeiras estão em greve. No hospital inteiro são nove enfermeiras grevistas.

Leia o relato da colega enfermeira:

“Cheguei ao meu limite!
Ontem, 25/10/2017, após seis anos de dedicação plena à saúde das gestantes no município de Porto Alegre, eu disse basta!
Ao longo da minha trajetória profissional no HMIPV, doei-me ao máximo. Perdi momentos preciosos junto a minha família, abdiquei de momentos importantes do crescimento da minha filha, pois, por anos, e ainda persiste, a falta de recursos humanos nos obriga a cumprir jornadas exaustivas para cobrir a escala e não deixar o plantão descoberto. Sempre, eu e as demais colegas do Centro Obstétrico fizemos “mágica” para garantir à população um atendimento de qualidade. Extrapolamos nosso limite para isso. Deixamos nossa vida de lado para ajudar ao próximo. Por favor, não tenham isso como uma reclamação, fiz e faço de coração, por amor à profissão, pela satisfação de poder proporcionar um parto mais humanizado às gestantes.
Ontem, dei um basta!
Basta, devido a cada vez mais ver a falta de recursos (humanos e materiais) nos forçarem a trabalhar no limite do impossível;
Basta, em respeito a todas as gestantes que necessitam de um atendimento humano, de qualidade e com respeito à vida;
Basta, para lutar por melhores condições de trabalho para mim e para os demais membros da equipe. Por todos aqueles que queriam lutar, mas não o fazem por medo de represálias;
Basta, pelas vidas que podiam ter sido salvas, por aqueles que deveriam, mas, quando mais precisaram do Estado e ele falhou;
Não me condenem!
Por exigir aquilo que, quando eu prestei concurso público, me foi prometido (e não foi muito, pelo nosso sacrifício diário);
Por exigir melhores condições de trabalho;
Por lutar por melhores condições para a saúde das mulheres e dos nossos bebês;
Por exercer meu direito.
Com relação ao que foi divulgado:
Segui o processo legal, comuniquei minha chefia, que deu o seu aval (registrado em mensagem) e a mesma informou a Direção do HMIPV (registrado em e-mail). Somos seis colegas no CO, três no turno da noite. Duas estavam livres e dispostas para cobrir a escala, mas não foram, em momento algum, orientadas nem mesmo consultadas. No silencio traiçoeiro, buscou-se o caos.
Para minha surpresa, ontem, às 22h30min, bate, insistentemente, em minha porta, uma pessoa se dizendo da SMS. Era o portador daquilo que considero a maior violação do meu direito, da minha honra – como nos tempos da escravidão, o senhor de engenho mandou seu capataz me buscar. Lá, em frente ao meu condomínio, ele me ligou mais de 10 vezes, interfonou outras inúmeras e, por fim, montou campana para me esperar, constrangendo-me em frente aos meus vizinhos e colaboradores do condomínio. Meu chão caiu. Como pode isso ter acontecido?
Estudei cinco anos na graduação, dois no mestrado, dois na especialização, outras centenas de horas em cursos de capacitação e mais algumas para ingressar no serviço público. Tudo isso, para, única e exclusivamente, dar meu melhor para os pacientes. Nunca, em toda minha vida funcional senti tamanho constrangimento e vergonha.
Fui ao hospital, por volta das 23h30min, não por conta de alguma notificação, até por que tive acesso a mesma somente por volta das 2h. Fui para o plantão, mais uma vez, por ver que a população tinha ficado à mercê de interesses obscuros. Ao chegar ao CO, mais uma surpresa. Havia uma colega lá, até por voltadas 23h, conforme constatado nas evoluções dos prontuários. Alguma coisa estava errada. Não eram quatro horas.
Não. Não era minha responsabilidade fechar a escala. Minha chefia foi comunicada e deu seu aval e, também, havia outras duas colegas da equipe do CO para atender às demandas, mas, as mesmas sequer foram consultadas. Sem falar no fato de haver outras quatro enfermeiras no hospital durante o plantão. Em diversas outras vezes fiz plantão em mais de dois setores. Já trabalhamos em duas para cobrir todos os plantões do mês no CO. Trabalhamos com três pessoas para fechar a escala que, no mínimo, 12 precisariam atender, conforme preconizam os procedimentos. Por que ontem não? Por que ontem tudo o que sempre fizemos, não funcionou?
Não tive tempo de processar o que está acontecendo. A exposição, a culpa que me foi imputada, a responsabilidade que não me cabia, trouxeram vergonha e tristeza.
Como olhar nos olhos dos meus colegas e pacientes após tudo que me foi imputado? Todo o prejuízo que dizem que eu sou responsável. Vai ser difícil continuar. Espero não ser mais uma vez punida por exercer meu direito.
Joelza Chiste Linhares (Coren/RS 206939)

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