A violência que nos rodeia, enquanto sociedade, não deveria se inserir dentro desse ambiente
Artigo de Helena Lauenstein, professora da rede municipal de Porto Alegre
Publicado no site da Zero Hora, dia 3/4/2019
Foram 153 dias de licença após a agressão sofrida por mim em outubro, dentro da escola onde trabalho. Semana passada voltei a trabalhar. Vários sentimentos me tomaram: ansiedade, alegria e também medo. Como seria recebida pelos colegas, alunos e pais? Como me sentiria ao passar pela porta da escola, o local onde se deu a agressão? A escola estaria mais segura agora?
Felizmente fui muito bem recebida pelos professores. Alunos e pais também mostraram-se felizes ao me verem e eu também contente ao revê-los. Recebi flores, café especial e a camiseta que meus colegas fizeram para mim, na semana do trágico acontecimento, com a frase: “professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”. Como não ficar feliz e emocionada com tantas demonstrações de carinho e apreço? Como eu poderia cogitar a possibilidade de trocar de escola? Como deixar para trás colegas, alunos e pais tão especiais? Mobilizaram-se e demonstraram toda a sua indignação com o episódio de violência acontecido dentro do ambiente escolar. Lugar de ensino, aprendizagem, em que se cultua a paz, o respeito, o amor, a tolerância, a diversidade.
A violência que nos rodeia, enquanto sociedade, não deveria se inserir dentro das escolas. Mas se insere, porque ela reflete todo o descaso dos governos com as populações das periferias, que sofrem com o sucateamento dos serviços públicos e com a falta de acesso à escola, à saúde, e as políticas sociais que deem conta da enorme e crescente desigualdade social.
A escola não está mais segura? Não. O contrato com a empresa de portaria foi cancelado por falta de pagamentos por parte da Smed (*Confira posição da prefeitura abaixo). O portão eletrônico da escola está estragado e o conserto, que é caro, não tem prazo para acontecer. Medo? Sim. Mas esperança, também. A valorização da escola pública é a melhor solução para combater a violência e a injustiça social. Quando ninguém mais acredita na educação, nós, professores, acreditamos.
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