Marcado pelo debate amplo e diversificado sobre alternativas para um outro mundo possível, o Fórum Social Mundial (FSM), que neste ano aconteceu em Salvador, entre os dias 13 e 17 de março, contou com a participação das Promotoras de Saúde da População Negra de Porto Alegre, cidade pioneira na implantação deste tipo de ação, a partir de 2012. Apesar de não ter recebido apoio financeiro da prefeitura, o grupo, formado por 40 Promotoras da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf), recebeu liberação para participar das atividades e não desanimou: bancou suas despesas de viagem e apresentou, no dia 13/03, as experiências vivenciadas nos seis anos do programa.
Uma das atividades foi o curso que está em sua 15ª edição e já formou cerca de 500 Promotoras de Saúde da População Negra desde 2012, quando teve início. A participação é plural, entre eles, estão trabalhadores da área da saúde, gestores públicos, membros do controle social e alunos de diversos cursos de graduação. “O objetivo do curso é fortalecer a implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) e combater o racismo institucional no município de Porto Alegre”, diz Jéssica Hilário Lima, enfermeira da Unidade de Saúde Santa Tereza e uma das promotoras.
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A outra atividade realizada foi a performance chamada “Bala Perdida”, concebida pelo artista plástico Estevão da Fontoura em parceria com o Comitê Técnico de Saúde da População Negra da Gerência Distrital Centro e que teve sua primeira apresentação em abril de 2016, na Praça da Alfândega. O projeto parte da necessidade de se combater a violência que atinge a população negra, desmistificando conceitos e mostrando a gravidade da situação brasileira, comparável a uma guerra civil. A ação consiste em abordar transeuntes com a incômoda pergunta “Você quer uma bala perdida?”. “Num primeiro momento, as pessoas ficam surpresas, mas param para ouvir, se sensibilizam”, explica Jessica. “Ao longo desse tempo, fomos percebendo que as pessoas estão mais alerta e que as mortes da população negra já não passam despercebidas. Elas acabam conversando com a gente, problematizando situações vividas no cotidiano e isso torna a experiência mais rica. É uma forma de combatermos a banalização da violência contra os negros, especialmente entre os jovens, porque quando questionamos e conversamos, geramos reflexão”, avalia.
Conforme estimativa do Atlas da Violência de 2017, realizado pelo IPEA e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cidadãos negros têm um risco 23,5% maior de serem assassinados em relação aos não negros, de maneira que a cada 100 mortes dessa forma no país, 71 são negras. E o jovem negro tem mais do que o dobro de chance de ser assassinado em relação ao branco.
De acordo com dados compilados pelo Instituto Humanitas Unisinos, a taxa de violência entre jovens negros em Porto Alegre é de 192,2 para cada 100 mil habitantes, enquanto entre brancos é de 70,5%. Entre as mulheres, a realidade não é diferente. Ainda de acordo com o Atlas da Violência 2017, o assassinato de negras no país cresceu 22% entre 2005 e 2015, enquanto diminuiu 7,4% entre as de outros grupos raciais. Dentre as mais de 4,6 mil mulheres assassinadas em 2015, mais de 65% eram negras.
GUARACY, PRESENTE!
O servidor público Guaracy Bomfim Vianna, um dos promotores que encabeçou o projeto no comitê da região central de Porto Alegre, acabou sendo uma das vítimas da violência que combatia: negro, foi assassinado em 26 de janeiro, em frente à sua casa, no bairro Aberta dos Morros. “Ele ajudou muito nessa trajetória do Promotores em Saúde da População Negra e na implantação de diversos Comitês Técnicos em Porto Alegre, além de ser um homem negro e militante. Por isso, fizemos camisetas com a mensagem ‘Guaracy, Presente’, que usamos durante o FSM. Além de ser uma forma de agradecimento, queremos mostrar que ele estará sempre com a gente nesta luta”, finaliza Jéssica.
Tags: Promotoras de Saúde, Saúde, Saúde da Família, simpa, SUS
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