Marchezan: Público ou Privado?

Por Jonas Tarcísio Reis, diretor-geral do SIMPA

Quem não conhece compra, mas quem depende dos serviços da prefeitura dispensa Marchezan do PSDB. Acabou o primeiro semestre de 2017 e não nomeou nem 50% da necessidade de RH da educação que, segundo a ATEMPA (Associação dos Trabalhadores em Educação do Município de Porto Alegre), tem déficit de mais 420 professores (alunos continuam sem aulas de matemática e português desde 1° de março, é uma parte do conto de fadas “Elefante Letrado”), nem guardas municipais (tiroteios têm causado pânico nas escolas municipais, como na EMEF Pessoa de Brum), muito menos assistentes sociais (CRAS e CREAS funcionam com redução de servidores, no limite, sem recursos para os alugueis sociais, sem alimentos para conceder aos necessitados). Júnior é só pose e discurso. Trabalhar pela cidade não quer.

As repartições estão virando casas fantasmas: é um ou dois servidores para fazerem tudo. A política de governo é a precarização do serviço público. Os servidores vão se aposentando e ninguém é nomeado para as vagas. Só o Hospital de Pronto Socorro – HPS detém um déficit de mais de 200 profissionais. Recentemente, fecharam a enfermagem de traumatologia (11 leitos), por conta do sucateamento. Triste fim das políticas públicas na cidade que um dia já exportou ao mundo um exemplo de gestão pública.

Em mais uma edição da propalada “Prefeitura nos Bairros”, que ocorreu dia 15-07-17, na Lomba do Pinheiro, a única coisa de verdade era a música popular, que convidava o povo a dançar os hits do momento como “Despacito”. Mas desta vez o povo não foi, porque já sacou que o prefeito da capital é fake, só quer palco e plateia para fingir que dança. Como dizem por aí, é o “Prefake” que (des)governa Porto Alegre. Antes era a elite que se escondia de medo do povo, mas agora é o povo que foge da elite mentirosa que está governando a prefeitura. É a resposta da população aos governantes arrogantes e incompetentes.

Júnior confisca salários de servidores aumentando, sem necessidade, o desconto previdenciário. Corta os recursos públicos, não investe em concursos, faz reformas administrativas de fachada (juntando pastas e serviços díspares, sem qualificar os espaços, nem ouvir a cidadania) e continua nomeando toneladas de CCs. Compreendemos, pois eles “solidariamente” carregaram bandeiras na campanha eleitoral e foram selecionados (sic) no famoso “Banco de Talentos”.

Lá no evento, ouvimos de um morador a seguinte pérola: “- Espero ver o Fortunati sair da prefeitura, para assumir o tal Marchezan em que votei, que prometeu melhorar tudo. Por enquanto, a Remião (avenida) tá cheia de buracos, o postinho de saúde não funciona de noite e a segurança piorou. Assume logo Marchezan!” Essa fala delata que a demagogia é rainha. A prática real de organizar e modernizar a cidade não apareceu. Uma moradora da Lomba também denunciou que a Unidade Básica de Saúde Mapa está sem telefone, porque a prefeitura não pagou a conta. Sinal de que, covardemente, o governo desqualifica os serviços públicos nas zonas mais pobres da capital.

No Facebook do prefeito é tudo muito bonito e funcionando às mil maravilhas. Ele é um administrador youtuber, que inclusive recebe dicas do MBL. Está sentado no cofre da prefeitura, mas não libera dinheiro aos bairros carentes. Marchezan funesto. No governo Fortunati só no gabinete havia 111 CCs. Agora já há 106. Enquanto isso a cidade colapsa pela falta de profissionais e o tucano segue incólume dançando “zumba”. É um caso para os cientistas políticos e sociais investigarem com afinco. Rende teses, hein!

Tudo é planejado. Em breve Júnior vai anunciar mais parcerias público-privadas como a brilhante solução. Detona os serviços para depois vender. Essa é uma receita antiga tucana. O Secretário da Saúde (que teve seu salário duplicado desde maio pelo chefinho) já noticiou o voluntariado para a saúde e a privatização do Hospital Presidente Vargas. Esse aumento salarial ajudou exclusivamente aos grandes empresários da saúde. Em suma, é um governo privatista. Um FHC dos Pampas, só que piorado, pois não dispõe da intelectualidade do ex-presidente vendilhão.

Percebemos, claramente, o recorte de classe das opções administrativas desse governo. Passamos pelo Parcão no mesmo dia e o percebemos varrido, organizado, usável. Porém, na Lomba, a grama dos canteiros estava na altura dos joelhos, o lixo espalhado pelas vias públicas. Cadê a “super” Secretaria de Serviços Urbanos? Ao que parece os serviços da prefeitura estão sendo canalizados para específicos bairros. Isso é no mínimo tendencioso. A gestão do DMLU, da SMOV e da SMS deveria olhar para as periferias, afinal, só na Lomba são mais de 90 mil habitantes, baita peso eleitoral.

Fazemos coro por menos ódio aos críticos e aconselhamos que o prefeito comece a trabalhar pela cidade. Diálogo e prudência são fundamentais aos homens públicos da “democracia”. Até os neoliberais poderiam ter respeito pelas pessoas e entender que o boicote da Lomba neste sábado é um importante sinal do descontentamento porto-alegrense.

“Prefeitura nos bairros” é uma farsa de mal gosto e ainda bem que acontece só em sábados sorteados. O povo precisa mesmo é da prefeitura funcionando todos os dias do ano, em todos os bairros. A manutenção das vias públicas parou no tempo. Porto Alegre está virada em um queijo suíço, cheia de buracos nas ruas. Para a iluminação pública não tem equipes nem lâmpadas para repor as danificadas. O vereador Mauro Zacher denunciou, “às escuras porque querem!”, disse ele, na ZH de 28-06-17. Observamos atônitos a SMOV definhar.

Júnior acha que a cidade é seu vídeo game. Crê que as pessoas não estão sendo desempregadas, que a assistência não é mais importante. Não percebe que uma das únicas apostas da população é a educação de qualidade. Temos que lembrá-lo que não se faz serviço público sem servidores e muitos menos sem investimentos financeiros. A prefeitura não é uma empresa, portanto, precisa e pode se endividar para resgatar o desenvolvimento social e econômico da cidade. Não adianta empréstimo de 120 milhões para revitalizar o Gasômetro. Apenas isso não basta, a cidade quer saúde, educação, assistência, pavimentação, saneamento, limpeza urbana, etc. Não só nos bairros nobres, mas na periferia que é composta por mais de 1,2 milhões de habitantes, mais de 80% da população.

Enfim, no seu Facebook Júnior postará novamente vídeo dançando no sábado, fingindo que não há mais um escândalo da Procempa envolvendo grana alta. Contudo, na realidade, quem está dançando mesmo é a população de Porto Alegre, com tanta incompetência, arrogância, desfaçatez e privatização.

É a “tucanização” da prefeitura no seu grau mais agudo. Aécio – de carreira elogiável (sic) – fez escola. O que era público e de todos – anotem o mau presságio – ficará privado e “deles”.

Publicado no site Sul21

Tags: simpa, sindicato

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