Por Jonas Tarcísio Reis para o Sul21
Uma aberração administrativa, Porto Alegre. Os atos da semana passada comprovam que Marchezan Júnior caiu de paraquedas na prefeitura. Desconhece a independência entre os poderes e se acha rei, mas não passa de um serviçal de consultorias.
Foram cinco dias de luta concentrada do povo contra o seu governo. Povo este que já sofre na pele, todos os dias, o caos da crise de credibilidade do governo Temer, que afunda a economia em recessão. Como Temer, o prefeito declarou guerra à cidadania e ela respondeu à altura. Se pensava que sozinho iria acabar com as políticas públicas e os cidadãos permaneceriam calados, enganou-se profundamente.
Na segunda-feira, 29-05-2017, doze escolas municipais foram fechadas pelos pais. Foi a chamada “greve de pais”, a primeira da história dessa cidade. Tínhamos visto greve de professores. Entretanto, de pais e responsáveis de alunos, nunca. Marchezan conseguiu essa proeza: pais bloquearam as entradas das escolas e outros tantos não levaram seus filhos em protesto à nova rotina escolar imposta por ele que desorganizou a vida de milhares de famílias na capital.
Na terça-feira, 30-05-2017, houve uma enorme audiência pública na Câmara, denunciando o desmonte na assistência social com mais de cinquenta instituições representadas. A rede de assistência foi pedir ajuda, porque o prefeito – que mente sobre as finanças da cidade – não mede esforços para agravar a crise social aos que mais dependem dos programas de combate à fome, à falta de moradia e ao desemprego. A denúncia: convênios sendo encerrados; serviços sendo interrompidos por falta de RH; desmantelamento das estruturas e mecanismos municipais que permitiam a chegada dos recursos federais e estaduais aos usuários. Em 02-06-2017, a prefeitura demitiu 110 contratados: 11 advogados, 56 técnicos (assistentes sociais e psicólogos) e 43 educadores sociais, deixando 31 centros de assistência social à deriva. E não se comprometeu com a nomeação de concursados.
Na quarta-feira, 31-05-2017, os trabalhadores do município lotaram a casa do povo, dialogando com vereadores para não aprovarem o Projeto de Lei (PL) de congelamento de salários, enviado por Júnior. Vereadores e municipários formaram uma aliança na defesa da cidade. Atuaram contra as garras do caótico gerencialismo, inconsequente, do prefeito isolacionista. “Não é monarquia, Marchezan, é democracia!”, gritaram alto legisladores e servidores na fatídica tarde, que resultou na retirada de tramitação do PL pelo tucano.
Na quinta-feira, 1-06-2017, os alunos da EMEF Pessoa de Brum fecharam a escola. Os alunos não aceitam a nova rotina que diminui o tempo de aulas. Protestavam contra o caos no refeitório que não comporta a todos ao mesmo tempo. Alegavam ser desconfortável comer em pé, visto que não há cadeiras suficientes para todos.
Na sexta-feira, 2-06-2017, a cidade ainda estava afogada, literalmente, embaixo d’água pelo sucateamento do Departamento de Esgotos Pluviais – DEP. Moradores do entorno da Arena do Grêmio queimaram móveis e levaram para a rua seus alimentos destruídos pelo alagamento. No dia anterior, haviam protestado fechando a Free-Way, pois estavam com suas casas submersas na podridão do esgoto que a prefeitura não desintupiu.
No final da tarde de quarta, Júnior, em sua clausura narcisista, divulgou um vídeo vociferando contra a vereança, atacando frontalmente àqueles que foram eleitos pelo voto popular e que representam os interesses da diversidade da cidadania, só porque não concordavam com seu esquizofrênico plano de congelar salários. Fracassou, até vereadores da base aliada se pronunciaram contra o governo. Marchezan plantou a discórdia entre executivo e legislativo e já colhe frutos.
A prepotência nunca foi boa conselheira aos gestores. Hitler e Mussolini, por exemplo, nela se afundaram e perderam o apoio entre seus seguidores. Uma mistura explosiva: mentira e prepotência. Mentirosos se dão sempre mal, cedo ou tarde. Prepotentes também. Contudo, se o sujeito combina as duas, se estrepa muito antes do planejado. Assim foi nessa semana com o prefeito Júnior.
A sua consultoria errou feio. O executivo não é uma empresa privada. É um poder que deve agir em harmonia com os outros. O judiciário já tinha deferido duas liminares ao SIMPA e ao SIMERS contra ataques aos salários dos municipários. Agora o legislativo deu seu recado: ou ele se apruma e toma postura digna de chefe de executivo ou definha seu governo de forma precoce e vergonhosa.
Trump despediu o chefe da CIA porque não respondia aos seus interesses. O Ministro da Justiça não ajudava Temer com a PF, ele o trocou. Marchezan não pode substituir os vereadores, foram eleitos. Por ter sido Deputado Federal se julga melhor que os vereadores? Pasmem, o homem se jacta e se autoelogia no facebook! A sociedade porto-alegrense está preocupada. Onde vai parar esse personalismo? Ao prefeito falta humildade e sobra arrogância. Com individualismo não se constrói nada.
Júnior frustra a todos, até aos aliados. É um desatinado. Enraivecido contra tudo e todos que pensam diferente. É um sem votos que encontrou espaço apenas pelo sobrenome de seu pai e joga a cidade em colapso total, como se fosse seu playground privado. Os agentes econômicos estão em debandada.
Saia das redes sociais e vá trabalhar, prefeito. Porto Alegre não pode esperar. Temos hospitais superlotados, escolas com déficit de mais de 400 professores, obras abandonadas, buracos no asfalto, esgotos transbordando, faltam lâmpadas para garantir a iluminação pública.
Pare de represar o dinheiro público para suas consultorias e negociatas de privatização. Na “lava jato”, para aparecer o dinheiro precisam de delação premiada, mas, na prefeitura, o portal da transparência revela dados que desmentem o discurso governamental da “crise”. A receita cresceu impressionantes 6% nos primeiros 120 dias de 2017. Chega de blefe. Nem o próprio Júnior acredita mais nessa mentira de crise financeira, pois “gritou” no vídeo que queria mesmo era meter a mão na reposição da inflação dos servidores, mas os vereadores, pelo prefeito declarados inimigos, não deixaram.
Porto Alegre sempre espera algo bom de seus governantes. Mas já cansou de esperar por Marchezan. A cidade foi à luta, pois seu governo representa um retrocesso sem precedentes. Felizmente, a cidadania que já teve um Sereno Chaise e um Olívio Dutra a frente, preocupados com a vida das pessoas, aprendeu a lutar por seus direitos e conquistas. Agora, os cidadãos combatem a mentira e a prepotência de Júnior incompetente.
Jonas Tarcísio Reis é doutorando em educação e Diretor Geral do SIMPA.