Live do Simpa mostra enfrentamento ineficiente à Covid-19 e os riscos aos servidores e à população

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Um rico e contundente debate com o tema “Covid-19: opção pela vida” marcou a nova live realizada pelo Simpa — com apoio da Asead — na noite desta terça-feira, 07/07. O objetivo foi discutir o enfrentamento à doença e a gravidade do atual cenário da pandemia.

 

Dário Frederico Pasche, professor da UFRGS, enfermeiro e especialista em Saúde Coletiva, falou sobre os erros cometidos pelos governos na estratégia de combate à doença e a necessidade de ampliar as formas de proteção solidária e comunitária especialmente aos mais vulneráveis. “Não estamos fazendo o dever de casa na saúde coletiva. Temos uma desassistência programada”, declarou Pasche. Conforme destacou, ”cuidar dos mais frágeis deveria ser o motor das políticas públicas”.

 

O professor colocou que a implantação de lockdown — medida mais extrema de isolamento que foi recentemente cogitada pelo governador Eduardo Leite se o número de casos de Covid-19 não diminuir — deve levar em consideração o que virá depois, com o novo ciclo de circulação do vírus.

 

Neste sentido, Pasche explicou que é imperativo ampliar as formas de atuação nas comunidades por meio de ações de vigilância epidemiológica, de saúde coletiva e Estratégia de Saúde da Família para que seja feito o enfrentamento adequado do coronavírus, haja ou não lockdown, principalmente considerando a vulnerabilidade socioeconômica e sanitária da maioria de nossa população e a falta de vacina e tratamento para a doença. Ou seja, além de investir em leitos hospitalares, é também urgente acompanhar a população antes mesmo de o vírus se manifestar a fim de evitar sua disseminação e o colapso do sistema.

 

Pasche propôs uma estratégia comunitária, via do SUS, baseada nos seguintes pontos:

 

estabelecer um plano de vigilância epidemiológica, criando uma frente de apoio aos pequenos municípios (o que deveria ser proposto pelo governo estadual) e, com isso, prevenir e evitar a propagação da doença;

rastrear e mapear os casos com ampla testagem (para ele, falta teste por “incompetência de gestão”, a começar pelo Ministério da Saúde, que não os distribui);

isolar pessoas infectadas e rastrear seus contatos (a ideia é impedir ao menos 2/3 de circulação do virus, reduzindo a taxa de contaminação – hoje, cada infectado transmite a doença para, em média, três pessoas), interrompendo, assim, a cadeia de disseminação do vírus;

visitar as casas das pessoas infectadas ou suspeitas, fazendo avaliações clínicas com oximetria e dando suporte e orientação clínica inclusive por telefone;

criar fluxos que permitam, de acordo com cada caso, tomas as medidas ambulatoriais ou de internação hospitalar quando necessárias. “Precisamos cair fora do ‘canto da sereia’ da falta de leitos. Faltam leitos porque estamos sendo incompetentes para enfrentar a doença a partir da base. Sem isso, as medidas tendem a ser inócuas”, pontuou.

 

Desmantelamento do SUS

 

Dando continuidade ao debate, Rosa Helena Mendes, vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre, falou sobre o desmantelamento do SUS e os riscos para a população. Ela iniciou destacando os prejuízos trazidos ao Sistema pela Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos públicos por 20 anos.

 

Ela lembrou que essa linha política, defendida por governos de direita como os de Bolsonaro, Leite e Marchezan, “interrompe o que vinha sendo implantado na saúde pública” desde a promulgação da Constituição. Hoje, disse, “50 milhões de pessoas dependem do SUS e sofrem com esse desmonte”. Até o momento, nesses quatro anos desde a aprovação da EC 95, “houve um prejuízo de aproximadamente 20 bilhões que poderiam estar sendo investidos em atenção básica, UBSs, hospitais, UTIs, fortalecendo o Sistema nesse momento crítico”, pontuou.”Hoje, os profissionais não conseguem dar conta nem da Covid, nem das doenças crônicas”, completou.

 

Ao tratar da gestão Marchezan, lembrou que várias unidades de saúde estão sendo fechadas ou operando de maneira precária, sem estrutura física ou pessoal. “O governo precariza, terceiriza e privatiza. Esse desmonte tem nome e endereço: são os grandes grupos econômicos, donos de clínicas, laboratórios farmacêuticos e assim por diante. O governo dá asas para essa linha ao invés de cuidar de seus profissionais e da população”.

 

Saúde do trabalhador

 

Annelise Barreto Krause, nutricionista, mestre em Epidemiologia e presidente da Comissão de Saúde e Segurança no Trabalho da Secretaria Municipal de Saúde, abordou as ameaças que pesam sobre os municipários durante a gestão Marchezan.

 

“Nós sofremos assédio institucional diariamente e a pandemia aparece em momento de extremo sofrimento mental e físico para os nossos colegas”, disse. Emocionada, Annelise lembrou de um relato anônimo de uma servidora da saúde que descreveu as dificuldades vivenciadas pelos profissionais da área, enfatizando: “sinto que querem nos matar a cada dia”

 

Annelise analisou a situação traçando um paralelo com a ideia desenvolvida por Achille Mbembe. “É como a necropolítica relacionada aos trabalhadores. Hoje, somos vistos como inimigos internos”. Ela também chamou atenção para a precariedade relacionada aos trabalhadores terceirizados, cujas condições costumam ser ainda mais precárias.

 

Ela elencou alguns dos problemas enfrentados hoje pelos trabalhadores do serviço público de Porto Alegre, entre os quais estão o fato de não haver, em todos os hospitais, serviços de saúde e segurança do trabalho; a desconfiança com os serviços disponíveis; o alto uso de medicação controlada entre colegas da saúde, sem que haja dados de acompanhamento oficial deste cuidado; a falta de um levantamento de dados de doenças crônicas entre servidores; o afastamento por sofrimento mental e a aposentadoria em massa desde 2017. “Cuidem-se, não apenas em relação à Covid, mas como um todo, porque é isso que vai ajudar a garantir a nossa sobrevivência” frente a essas dificuldades, finalizou.

 

Confira abaixo a íntegra da live:

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