Representantes de entidades dos trabalhadores e trabalhadoras do serviço público de Porto Alegre participaram hoje, 30/07, no Simpa, de coletiva de imprensa, na qual expuseram seu repúdio à administração Marchezan e explicaram as motivações da greve que se inicia nesta terça-feira, 31 de julho. Num movimento inédito, estarão unidos trabalhadores de toda a saúde pública, além dos servidores da educação, assistência social e demais áreas do serviço público.
O foco das críticas das entidades está na destruição da cidade e dos serviços públicos e no desrespeito à população e à categoria, que está sem reajuste, com salários sendo parcelados e correndo o risco de ver seus direitos aniquilados pelos projetos de lei de Marchezan que tramitam na Câmara, além da falta de diálogo por parte do prefeito com os servidores.
Ao abrir a coletiva, o diretor geral do Simpa, Alberto Terres, salientou que “os servidores devem ser parte da solução dos problemas de uma cidade e não serem eleitos como seus problemas. Somos nós que servimos à população”. Ele lembrou que o discurso da falta de recurso para o pagamento da folha do funcionalismo não se sustenta. “Por lei, pode-se utilizar até 100% do Fundeb para pagar servidores da educação e os recursos do Fundo Municipal da Saúde também pode ser usados. A folha dos servidores da saúde soma 41 milhões e o Fundo, no ano passado, teve em média recursos na ordem de 220 milhões”, disse.
Terres também destacou que “Marchezan não dialoga com a cidade, com os servidores e nem com o parlamento” e “quer entregar para a iniciativa privada os serviços da cidade”. O dirigente finalizou colocando que “estamos resistindo a este ataque, o que significa defender Porto Alegre. Não estamos apenas defendendo nossos salários; somos servidores, escolhemos a carreira pública e temos conhecimento do que a cidade precisa. Não podemos entregar esse conhecimento à iniciativa privada. Isso aumentaria a rotatividade e impediria a criação de vínculos entre os trabalhadores e a cidade”.
Estevão Finger, presidente do Sindicato dos Enfermeiros (Sergs), destacou que os 1.700 funcionários do Imesf estão há três anos sem reajuste , além de haver a possibilidade de supressão de 10% do salário base. “Marchezan fez uma opção política de atacar a cidade, os serviços públicos e os trabalhadores e de não dialogar com a sociedade”. Ele criticou a possibilidade de privatização e terceirização dos serviços: “não é algo ruim apenas para o trabalhador, mas para toda a sociedade porque não há criação de vínculos e piora a qualidade dos serviços prestados”.
Julio Appel, vice-presidente do SindiSaúde-RS, destacou que “a saúde é um direito de todos e dever do Estado” e alertou que o processo que está sendo instalado na cidade é igual ao do Rio de Janeiro, que levou à falência da saúde primária em todo o município”. Appel salientou que “parte dos postos hoje tem bolor, barata, ratos” e que faltam médicos e profissionais. “Três postos da cidade só abriram a sala de vacinação por três dias por não terem servidores”.
Valdívia Lucas, presidenta do Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde do Estado (Sindacs), lembrou: “Estamos há três anos sem nenhuma reposição e há muitos agentes de saúde adoecendo pela excessiva carga de trabalho. Alguns atendem mil famílias (ou seja, são cerca de 4 mil pessoas por agente), trabalham debaixo de chuva e lidam cotidianamente com violência e ameaças”.
A diretora do Simers (Sindicato Médico do RS), Clarissa Bassin, declarou: “Infelizmente entraremos em greve – e digo ‘ infelizmente’ porque é sempre uma escolha muito difícil para nós, que amamos o que fazemos, que estamos no serviço público por opção e sabemos a falta que fazemos em nossas comunidades”. E completou: “esta greve foi decidida nos gabinetes da prefeitura e as assembleias ratificaram porque é um prefeito que mostra claramente sua face autoritária quando quer mudar o plano de carreira sem discutir, propondo que isso seja feito unilateralmente na Câmara”.
Débora Melecchi, presidenta do Sindicato dos Farmacêuticos do RS (SindiFars), reforçou o apoio às categorias e lembrou que “no atual momento que vivemos, está sendo ferida a dignidade humana, rompidos todos os direitos conquistados por todos nós ao longo dos anos”. Débora também destacou que “a população precisa entender que no momento em que Marchezan desrespeita e desvaloriza a trabalhadora e o trabalhador, está desmontando os serviços prestados. Como cumprir nosso compromisso se não somos respeitados? Como atender a população se os serviços estão sendo desmontados?”. A farmacêutica lembrou que a lógica aplicada por Marchezan é a mesma colocada me prática pelo governo Temer, que aprovou a Emenda Constitucional 95, que congela os investimentos públicos por 20 anos. Por fim, declarou: “A prefeitura precisa dialogar com sindicatos e trabalhadores e respeitar a população. Não vamos aceitar mais nenhum outro retrocesso”.
A coordenadora-geral da Associação dos Trabalhadores (as) em Educação do Município de Porto Alegre (Atempa), Sinthia Meyer, salientou: “Vivemos tempos de terror, de assédio, e de perseguição. Estes motivos também nos levam a paralisar os serviços”. E completou: “Desde 2017, enfrentamos uma nova rotina que tirou os professores da sala de aula; e temos, na educação, o maior índice de afastamento de trabalhadores por problemas de saúde”. Segundo Sinthia, há 989 vagas que precisam ser preenchidas – entre professores, monitores e trabalhadores da educação.
Isabel Santana, presidenta da Associação dos Servidores do Hospital de Pronto Socorro (ASHPS), destacou que “nós, servidores, é que executamos os direitos da população à educação, à saúde, à segurança” e disse que “o povo deve se unir a nós porque estamos defendendo a cidade”. Ao falar do HPS, lembrou que o hospital, uma referência no país, “está sendo precarizado de tal forma que 22 leitos foram fechados na traumatologia e outros quatro na UTI. Numa sala de recuperação com 10 leitos, somente cinco são usados; faltam profissionais para atender e a emergência sobrecarregada”.
Finalizando as falas de abertura, Lurdes Toazza Tura, da Associação dos Técnicos de Nível Superior de Porto Alegre (Astec), salientou: “Estamos aqui para conversar com a cidade; precisamos que a população acorde para ver quem está governando: um prefeito que está destruindo a cidade”.
A greve tem início nesta terça-feira, 31/07, com a seguinte agenda:
9h – Ato na Secretaria Municipal de Saúde, seguido de caminhada até o HPS
11h30 – Ato no HPS
12h – Caminhada do HPS ao Paço Municipal com almoço e panfletagem
14h – Entrega do pedido das entidades para instituir negociação da data-base com Marchezan
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