Manifesto Regional – Porto Alegre/RS
Chegamos em mais um 8 de março, data que historicamente movimenta mulheres no mundo todo na defesa de seus direitos. Tomamos as ruas, nos enxergamos umas nas outras e nos colocamos em luta contra a violência cotidiana, o feminicídio, o desemprego crescente, a precariedade do acesso à saúde, o descaso com a educação pública. Problemas que dizem respeito ao conjunto da classe trabalhadora, mas que atingem sobretudo a nós mulheres, e com mais intensidade ainda a mulheres negras, indígenas e LGBTQIA +, cabe ressaltar que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo.
A crise econômica, política e social que vivemos se arrasta por mais de uma década no mundo. É fruto da própria dinâmica do sistema capitalista e nos coloca em uma posição ainda mais vulnerável, pois a saída da crise é sempre a partir da transferência de seus custos para as trabalhadoras e trabalhadores, como se nós fossemos responsáveis por pagar essa conta, evidenciando os grilhões da dominação imposta pela burguesia.
Cabe então, aos movimentos sociais a tarefa de nos fortalecer, dialogar com os problemas concretos enfrentados pela maioria da população e avançar na construção de alternativas. A luta organizada das mulheres é parte fundamental disso, e nos últimos anos os atos do 8 de março têm construído pautas e impulsionado mobilizações no Brasil, relacionando demandas específicas das mulheres com a totalidade da luta das trabalhadoras/es contra a precarização da vida.
A pandemia do coronavírus traz novos contornos a velhos problemas. Se já enfrentávamos a maior crise da história, oriunda do próprio funcionamento do capital, as consequências econômicas e humanitárias da doença, agravam a situação. O desemprego em nosso país atinge mais de 14 milhões de pessoas, e nós mulheres correspondemos a grande parcela desse contingente – mais da metade de nós enfrentamos a pandemia estando fora do mercado de trabalho.
Somos responsáveis pelo cuidado da casa, das crianças e idosos, e cai em nosso colo o aumento do custo de vida. As mães trabalhadoras estão sendo penalizadas por essa gestão genocida da pandemia, através da retirada de direitos básicos das mulheres e das crianças. São necessárias políticas públicas que amparem tanto as mães que podem manter as crianças em casa, quanto aquelas que precisam de escolas como rede de apoio. Cuidar de quem cuida é garantir a segurança e a saúde das crianças, as mães trabalhadoras não devem seguir sozinhas nessa rotina exaustiva. Pela visibilização do trabalho reprodutivo e de cuidado e por políticas que garantam a redistribuição coletiva dessa responsabilidade! As mães não podem seguir pagando essa conta sozinhas.
Precisamos de um auxílio emergencial digno, pois estamos tendo de nos virar para garantir comida na mesa com o encarecimento do preço dos alimentos e do gás de cozinha. O auxílio emergencial de R$600, que já era insuficiente para dar conta das necessidades básicas das nossas famílias, foi interrompido, e agora os governos apelam à politicagem para aprovar um valor de R$250.
As mulheres indígenas, já tão vulneráveis diante de políticas genocidas de um governo que já declarou inúmeras vezes que as considera como inúteis e descartáveis, em prol do crescimento do agronegócio, além de ter de lidar com questões deficitárias de infraestrutura em suas comunidades, sofrem com a impossibilidade de vender suas artes e cuidar dos seus.
A saúde pública de Porto Alegre já está em situação caótica devido à negligência do governo federal, estadual e municipal. Enfrentamos bandeira preta com superlotação dos hospitais e postos de saúde. Acessamos diariamente um transporte público lotado, sem higienização adequada, com linhas cortadas, e novamente, a ameaça recorrente do aumento abusivo do preço da passagem. Muitas de nós, trabalhadoras terceirizadas da saúde, educação e assistência social fomos demitidas na pandemia. A maioria de nós, assim como as nossas famílias, está fora dos calendários de vacinação, que já se mostram insuficientes para a realidade da cidade. Agora, até as escolas estão sendo reabertas, aumentando o risco de exposição de crianças e comunidade escolar ao vírus. Para a reabertura poder ocorrer, exigimos condições de segurança seguindo os protocolos de higiene e prioridade na vacinação para as funcionárias.
Esta realidade está cada vez mais sufocante!
A violência, em casa e na rua, também piorou. Em todo o mundo, os índices de agressões, feminicídios e estupros aumentaram, tornando urgente a revogação da Lei de Alienação Parental, que vem silenciando mulheres nas denúncias de violência doméstica pela ameaça de perda da guarda para o agressor, barrando aplicação da Lei Maria da Penha. Em nossa cidade, vimos o avanço do desmonte das redes de acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica. A guerra às drogas perpetrada nas periferias do país também nos atinge profundamente, assassinando a nós, nossos filhos, irmãos e companheiros.
Ano passado a pauta da Legalização do Aborto esteve em evidência, tanto no Brasil quanto no exterior. Aqui, através do Ministério da mulher, família e direitos humanos chefiado pela reacionária Damares Alves, passamos por uma intensificação de várias situações de privações de acesso ao aborto, que é permitido em lei nos casos de estupro, risco de vida à mulher e anencefalia do feto. Por exemplo, o maior hospital que presta o serviço de aborto legal em São Paulo, o Pérola Byington, anunciou a interrupção justamente desse serviço em razão da pandemia de Covid-19. Em razão da pandemia, foi dificultado o acesso a contraceptivos, mais uma violação dos direitos reprodutivos das mulheres. Houve também o triste caso da criança de 10 anos, grávida após constantes estupros perpetrados por seu próprio tio, que teve seu direito ao aborto ameaçado por ataques organizados pelo próprio governo federal e seus apoiadores.
É visivel que os grupos chamados de “pró-vida” – de quem? – estão cada vez mais organizados no Brasil, principalmente com o apoio do governo federal e de instituições religiosas milionárias. Nesse cenário, entendemos que devemos seguir resistindo, nos organizando e nos unindo na luta pelos nossos direitos sexuais e reprodutivos, que têm direta relação ao modo como organizamos nossas vidas e de nossas famílias. A proibição do aborto reverbera em todos os aspectos da opressão sofrida pelas mulheres: violência contra a mulher; pobreza; discriminação no mercado de trabalho, entre outras formas de subjugação feminina.
O machismo e o reacionarismo escancarados de Bolsonaro em consonância com os projetos do governador do Estado Eduardo Leite e do atual prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo são mais uma prova de que a burguesia que comanda nosso país, Estado e cidade não possui qualquer interesse em enfrentar os reais problemas que atingem as mulheres brasileiras. As figuras femininas burguesas que nos propagandeiam seus ideais de “empoderamento feminino” em nada se importam com as lutas diárias das mulheres trabalhadoras.
Exigir a saída de Bolsonaro e Mourão é fundamental, mas sabemos que ela não será suficiente para resolver nossos problemas. Nossa luta precisa ser, também, contra o sistema capitalista que os sustenta e se beneficia de nossa opressão ao colocar sempre seus lucros acima de nossa vida.
Devemos lutar pelos direitos básicos ao emprego, à alimentação, à saúde e à educação para nós e nossas famílias.
Por isso, neste 8 de Março, mais do nunca, lutamos:
Por vacinação gratuita, universal e rápida já!
Pela continuidade do auxílio emergencial em um valor que dê conta de nossas necessidades básicas!
Pelo acesso livre ao aborto já legalizado e pela legalização do aborto em qualquer caso, para todas!
Pela nossa sobrevivência, fora Bolsonaro e Mourão!
Assinam este Manifesto:
Ação da Mulher Trabalhista de Porto Alegre
Associação dos Trabalhadores/as em Educação do Município de Porto Alegre – ATEMPA
Afronte RS
ANDES/UFRGS
ASSUFRGS
Central Única de Trabalhadores – CUT/RS
Centro de Estudantes de Letras – CEL/UFRGS
Cia Dramática
Coletivo A Vez das Comunidades
Coletivo Alicerce
Coletivo Construção pela Base
Coletivo de Mães na UFRGS
Coletivo de Proteção à Infância Voz Materna
Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – CFCAM
Coletivo Feminista Classista Alexandra Kollontai – CFCAK
Coletivo Feminista Marielle Vive – Construção Socialista/PSOL
Coletivo Juntas!
Coletivo Mutiplicidade
Coletivo Povo da Ginga
Comunidade da Lomba do Pinheiro
Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (COMDIM/POA)
Conselho Regional de Serviço Social 10° Região (CRESSRS)
CSP Conlutas
DCE PUCRS
DCE UFRGS
Emancipa Mulher – Escola Feminista e Antirracista
Estados Generais das Mulheres do Brasil
Federação da Alimentação RS
Força Tarefa de Combate aos Feminicídios
Fortalecer o PSOL
Fórum das Mulheres Feministas de Viamão
Fórum de Mulheres do Mercosul
Fórum Municipal de Mulheres de Porto Alegre
Frente pela Legalização do Aborto RS – FrePLA
Fundo de Amparo às Mulheres de Porto Alegre
Gabinete da Vereadora Laura Sito
Grupo de Pesquisa Epistemologias, Narrativas e Políticas Afetivas Feministas
GT Mulher ASSUFRGS
Instituto Travessias
Intersindical
Jornada Lésbica Feminista Antirracista de POA
Levante Feminista Contra o Feminicídio
Levante Popular da Juventude
Livres- Movimento de Mulheres do CEDS
Mandato da Deputada Estadual Sofia Cavedon
Mandato da Deputada Fernanda Melchionna
Mandato da Deputada Juliana Brizola
Mandato da Deputada Luciana Genro
Mandato do Deputado Jeferson Fernandes
Mandato do Deputado Paulo Pimenta
Mandato do Povo que Batalha Vereadora Karen Santos
Mandato do Vereador Matheus Gomes
Marcha Mundial das Mulheres
Marcha Mundial das Mulheres Canoas
Movimento da Luta Socialista MLS
Movimento de Mulheres Camponesas RS
Movimento de Mulheres Olga Benario
Movimento dos Atingidos por Barragem – Porto Alegre – MAB
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra RS
Movimento Mulheres em Luta
Resistência Feminista
Sempre Mulher – Instituto de Pesquisa e Intervenção Sobre Relações Raciais
Secretaria da Mulher do Sindimetrors
Secretaria de Mulheres do PCdoB Porto Alegre
Secretaria de Mulheres do PSTU
Secretaria de Mulheres do PT de PoA
Secretaria Estadual de Mulheres do PT RS
Sindicato dos Municipários de Porto Alegre/ SIMPA
Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU do Rio Grande do Sul
SindoIF – ANDES/IFRS
Sintrajufe/RS
União Brasileira de Mulheres – Porto Alegre
União Brasileira de Mulheres RS
União da Juventude Comunista – UJC
União da Juventude Socialista – UJS
União Estadual de Estudantes – UEE
União Nacional de Estudantes – UNE
Vivas Nós Queremos RS
Tags: 8M, Dia Internacional da Mulher, municipários, Porto alegre, simpa, sindicato
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