A urgência de salvar o HPS do atual processo de degradação foi pauta de audiência pública realizada na Câmara de Vereadores na noite desta quinta-feira, 23, proposta pelo Conselho Municipal de Saúde, com a presença do secretário de Saúde, Erno Harzheim, representantes dos funcionários do hospital, do Ministério Público Estadual (MPE/RS), do Coren e da Comissão de Saúde da Câmara. O Simpa acompanhou a audiência, representado por suas diretoras de Saúde do Trabalhador, Oneia da Silva Machado e Rita Buttes.
Para enfrentar os problemas do HPS, a Associação dos Servidores do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (ASSHPS) defende a nomeação de profissionais de enfermagem, a transformação das vagas de auxiliar em técnico de enfermagem; melhorias na infraestrutura predial; reposição de materiais e reabertura do setor de coleta (banco de sangue), dos leitos de UTI, da sala de recuperação e enfermaria traumato.
Tais saídas também têm sido defendidas pelo Simpa, que vem, há anos, denunciado as dificuldades do HPS. Para o Sindicato, é preciso que a prefeitura invista no HPS e no seu corpo de funcionários a fim de garantir um serviço público e de qualidade, deixando de lado a política de sucateamento do SUS que apenas beneficia o setor privado em detrimento dos interesses públicos.
Após os relatos feitos pelas entidades e por participantes da audiência, a promotora de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério Público Estadual (MPE/RS), Liliane Pastoriz, explicou que há dois inquéritos relativos ao HPS no MPE e que o órgão tem monitorado a situação do hospital. Também disse que o MPE está cobrando soluções da gestão por meio desses inquéritos.
O secretário de Saúde, por sua vez, alegou carência de recursos e crise nas finanças para explicar as dificuldades enfrentadas pelo HPS, sem apontar nenhuma saída concreta. “Não temos solução mágica para os problemas de recursos humanos neste momento”, disse, sobre a falta de funcionários.
A importância do HPS
Com 74 anos de existência e sendo uma referência na área da traumatologia, o Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre atende pessoas de todo o estado, sendo essencial especialmente para a capital e as cidades da região metropolitana. Mas, enfrenta um momento crítico provocado pelo descaso da gestão municipal, situação que vem sendo denunciada há anos pelo Simpa, Coren, CMS, ASSHPS, entre outras entidades. A estrutura do HPS encontra-se sucateada – há vazamentos em vários setores –, faltam médicos, profissionais de enfermagem, equipamentos básicos – como macas e cilindros de oxigênio – e sobra trabalho para os servidores, que ficam sobrecarregados, sofrendo, eles mesmos, com problemas de saúde física e emocional.
Atualmente, o HPS é responsável por mais de 300 mil atendimentos e 5 mil internações por ano. No entanto, este grande número de usuários conta com cada vez menos profissionais à disposição. No caso da enfermagem, segundo informações da Associação dos Servidores do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (ASSHPS), faltam 232 trabalhadores. Apenas no período 2017-2018, até o momento, saíram do HPS 26 enfermeiros e 123 técnicos e, para 2019, estão previstas mais 66 aposentadorias. E, apenas em 2017, houve aumento de 141% no atendimento a pacientes em estado grave. Por outro lado, há dois concursos, com prazos de validade em 2019 e 2020, que permitiriam amenizar esse déficit, porém, seus aprovados ainda não foram chamados.
Estrutura sucateada
O quadro de degradação também pode ser visto na estrutura do HPS. No ano passado, foram fechados 21 leitos, bem como a enfermaria de traumato do segundo andar, por falta de condições de funcionamento e de enfermeiros. E neste ano, foi fechado o setor de coleta de sangue.
Por falta de camas e macas próprias, os pacientes têm de permanecer nas macas do Samu, o que resulta na retenção da ambulância até a liberação das mesmas. Ainda conforme dados levantados pela Associação, a superlotação do HPS tem resultado na divisão de um mesmo box para quatro pacientes e no uso dos corredores da emergência para sua acomodação. No bloco cirúrgico, apenas uma sala funciona devido à falta de funcionários. Na sala de recuperação, que comporta dez leitos, apenas cinco têm pacientes também por falta de funcionários.
Eunice de Moura, uma das enfermeiras do HPS presentes à adiência, confirmou os problemas vividos pelo hospital e colocou: “O HPS está sendo desmontado”; “é uma realidade triste e desumana, que demonstra descaso com a saúde pública e dos trabalhadores”.
Zoraide, enfermeira há 28 anos, colocou: “estamos retrocedendo 30 anos em nosso atendimento”. E completou: “Temos a obrigação de passar um HPS melhor para nossos alunos; mas hoje temos vergonha de mostrar o que tem lá dentro”.
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